Entrevista com o Diretor Cultural da PORTELA
CPB: Nome e idade?
Luis Carlos Magalhães. Tenho mais de sessenta. E não fiz este ano, não...
CPB: Fale um pouco sobre você.
Sou carioca, advogado, 3 filhos (sendo um de 2 anos), tricolor, menino de zona norte (Lins de Vasconcelos), estudante do Pedro II, filho de mãe supercarnavalesca, influenciado pelos carnavais da Unidos do Cabuçu e do carnaval de rua de Vila Isabel onde morava a família de meu pai. Tenho o coração multifacetado em relação às escolas. A Unidos do Cabuçu, minha formação, meus amigos do morro e do futebol iam lá em minha casa mostrar a fantasia pra minha mãe. Os passistas fantásticos. A Mangueira era a escola grande mais próxima de minha casa. Podíamos até voltar a pé em uma época em que, por ali, todo mundo era Mangueira. E a Portela que foi me conquistando ao longo da vida, de minha maturidade como homem, por sua história, por seus líderes, seus compositores E ainda tinha a Vila, o Império e o Salgueiro, que frequentávamos muito. Mas nunca me interessei por fazer algo mais sério no universo do samba e do carnaval. Só mais tarde, já formado, fui procurador da Caixa Econômica Estadual de São Paulo, conhecendo profundamente o interior de São Paulo pude perceber e vivenciar a força que tinha o samba carioca. Mas foi o livro da Marília Barbosa e Ligia Santos sobre o Paulo da Portela e os discos gravados por Cristina Buarque e os sambas de Monarco falando do Paulo que me tornaram Portelense. Nunca pretendi e nem procurei ser diretor do Depto Cultural. Só aceitei quando soube que a PORTELAWEB e as torcidas aprovaram e indicaram meu nome e sabendo que Monarco abençoou meu nome.
CPB: Como portelense, como você está vendo este novo momento portelense?
Acho que é um dos momentos mais importantes em uma história repleta de momentos importantes. A escola vivia um momento tão negativo que se a situação perdurasse a crise, a ruptura seria inevitável. Era o confronto claro entre a Portela dos portelenses e a Portela aprisionada por um colégio eleitoral diminuto que em momento nenhum a representou. Do futuro nada sabemos, mas o que vemos é a atual direção fazer tudo certo, com a melhor das intenções. Uma diretoria com membros que amam a escola e dispostos a dar grande parte de suas energias para trazer de volta a Portela de seus melhores dias. O dia da vitória e a primeira feijoada podem ser inscritos entre os mais vibrantes dias de nossa escola.
CPB: Fale de sua experiência no mundo do samba.
Eu jogava futebol bem, quando criança. Morava em um lugar cercado de morros: Morro do Amor, Encontro, Barro Preto, Barro Vermelho, Árvore Seca, Cachoeirinha e Cachoeira Grande. Meu pai era funcionário público e morávamos em um conjunto de classe média. Eu tinha muito contato com meninos negros e tinha uma segunda família ali no local, também negra. Meu pai era do Partido Comunista e tinha também grande identidade social e cultural com negros. E uma mãe foliona do carnaval, aí foi um pulo. Desfilei algumas vezes pela Cabuçu também. Só consegui ser campeão uma vez com a Mangueira de Chico Buarque, acho que em 1998. Frequentei muitos ensaios, muitas disputas de sambas-enredo, me apaixonei algumas vezes por aquelas garotinhas de classe média que começavam a frequentar o Salgueiro no Clube Maxwell. Muitos, mas muitos mesmo, momentos de alegria no RENASCENÇA ao tempo em que morava fora do Rio. Ali era o único lugar em que podíamos em um único sábado ouvir todos os sambas vencedores, de todas as escolas. Hoje isto é comum, mas naquele tempo não era. Depois morei fora do Rio muito tempo. Quando voltei me meti em produção. Fiz um show no Centro Cultural Carioca com Camunguelo e Vó Maria, viúva do Donga; fiz um chamado “MULHERES CANTAM CANDEIA”, também no Centro Cultural, com Surica, Aurea Maria, ambas da nossa Velha Guarda, e a então iniciante Teresa Cristina. E o que mais gostei foi um espetáculo com os antigos casais de mestres-sala e porta-bandeiras, com narração de Haroldo Costa e sambas cantados por Rixa. Foi a única vez que Vilma dançou com Delegado. Delegado com Dodô; Delegado com Selminha ente outros casais.
Na época do centenário do Paulo da Portela fizemos um filme “SEU NOME NÃO CAIU NO ESQUECIMENTO” com Manoel Dionísio no papel principal. Participações de Tinhorão, Sergio Cabral, Paulinho da Viola, D. Neném do seu Manacéa, Monarco, seu Jair,Cristina Buarque,Marquinhos de O. Cruz, Teresa Cristina, Dorina, Velha Guarda, narrado por Haroldo Costa, direção de Dermeval Neto, produção minha e de João Baptista Vargens, com consultoria de Carlos Monte, Marília Barboza, Ligia Santos. Ali tem a última entrevista dada por seu Armando Santos e foi dada a mim pouco antes de sua morte. Refizemos o túmulo abandonado do Paulo no cemitério de Irajá, com mármore preto e a inscrição na lápide: “AQUI JAZ O MAIOR DE TODOS OS BAMBAS”. Toda a dignidade que merecia.
Participei intensamente como coordenador de um movimento pela revitalização dos blocos da Avenida Rio Branco. Fortalecimento do Cacique, do Bafo, Clube do Samba, Bola Preta e tantos outros, inclusive o renascimento do Bohêmios de Irajá que estava sem sair havia dez anos. Também nos primeiros carnavais do “Rancho Flor do Sereno” lá do BIP iniciativa do Alfredinho e do Elton Medeiros. Como folião participei do momento de renascimento dos blocos da cidade integrando o bloco MIS A MIS de Marília Barbosa. Participei da equipe de produção das rodas de samba do Museu Da Imagem e do Som, produzidas por Marília Barbosa. Participei por mais de dez anos da equipe de produção do Pagode do Trem de Marquinho de Osvaldo Cruz.
Comecei a ser convidado a participar de programas de rádio de Miro Ribeiro e João Estevan. Tive, e ainda tenho, um programa na rádio MEC exclusivamente sobre blocos de carnaval, pioneiríssimo, desde 2001. Faço discos-piratas-do-bem em casa reunindo obras desprezadas pela discografia oficial e pelo mercado. Coletâneas sobre as obras de Paulo da Portela e Walter Rosa, só para ficar com os Portelenses. Depois fui convidado para ser colunista no site de carnaval do jornal O DIA, com a coluna Memória da Folia, no ODIANAFOLIA. Dali fui para o SRZD e de lá para o www.carnavalesco.com.br onde estou até hoje. Participo como convidado de debates na rádio Globo e no Programa Madrugada na Globo como radialista Robson Aldir. Hoje integro o time da equipe de carnaval da Radio Tupi comandada por Eugênio Leal. Sou ainda colunista da revista ROTEIRO DOS DESFILES, com a coluna PETELECOTECOS DA FOLIA e da Revista do prêmio PLUMAS E PAETÊS. E ainda fui e sou professor de cursos voltados para o carnaval em nível de pós-graduação.
CPB: Qual(is) o(s) seu(s) ídolo(s), no Samba?
Acho que Cartola é o Pelé do samba. E o Nelson Cavaquinho o Garrincha. Mas meu ídolo maior é Paulo da Portela, o maior de todos os bambas. Monarco adora contar o que Cartola sempre lhe dizia: “Eu (Cartola) fiz muito pelo samba e pela Mangueira, mas Paulo fez por todos nós”. E como referência de intelectuais tenho Tinhorão, Sergio Cabral e Marília Barbosa.
Como lideranças são, além de Paulo, Natal, Lino Manoel dos Reis, (o mais injustiçado), Mano Elói, Hilário Jovino e Ciata, Heitor, Saturnino (pai da Neuma), Candeia. Toda a turma do Estácio e, fora do carnaval, o insuperável Noel Rosa. Dos que estão vivos são Monarco, Paulinho da Viola e Cristina Buarque.
CPB: Defina o que é ser Diretor Cultural, sua importância num todo para a Escola.
Esta resposta vale para esta e para a pergunta seguinte. Eu tenho a visão de que no universo do samba, de sua formação e desenvolvimento, a Portela é a Grécia, desenvolveu e desempenhou idêntico papel que a Grécia para a história da humanidade. A Mangueira é formidável, insuperável em alguns aspectos e seu papel é importantíssimo. Assim o Império e o Salgueiro, mas a Portela é a Grécia. Os Portelenses do passado sabem disso; os de minha geração muitos sabem. Nosso papel como depto cultural é mostrar isto aos novos Portelenses e aos sambistas em geral que não sabem. E não vai aí nenhuma arrogância, juro que não. Cada escola tem sua história que é a mais linda e a mais importante segundo a paixão de cada um. É isto que revigora os desfiles. Nosso papel, no entanto é outro, repito, sem nenhuma arrogância. Acho que a Portela está longe de ser uma escola que protagonize o carnaval hoje, este espaço do protagonismo é tarefa para o presente e para o futuro, e nossa diretoria já está cuidando disso. O Depto cultural tem que mostrar a Grécia que somos. Os projetos, todos serão nesse sentido, nessa direção.
CPB: A PORTELA completou 90 anos de existência, possui uma história de glórias! Existe algum projeto para mostrar tal importância?
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CPB: Você pensa em parceria para poder desempenhar sua função na PORTELA?
Todas, nestes primeiros dias temos a parceria interna da PORTELAWEB, que já tem um enorme acervo de primeiríssima, temos já parceria com a UERJ, inclusive com um projeto já em curso, parceria com o Parque de Madureira, além de parcerias com pessoas como Rildo Hora que é hoje o produtor mais festejado do samba, parceria com Alfredo Galhões, músico da banda do Zeca Pagodinho, alem de Paulinho da Viola que mostrou grande entusiasmo na feijoada, Marília Barbosa, biógrafa de Paulo da Portela, e João Baptista Vargens, biógrafo de Candeia, de Monarco e da Velha Guarda.
CPB: Para você, o que é ser PORTELA?
Ser Portela é ter o orgulho maior de ser Portela. É desfilar, é passear nos ensaios técnicos, é receber amigos na feijoada com a autoestima tão alta como o alcance do voo da águia. Sem empáfia, sem arrogância...mas com a autoestima que muito Portelense estava perdendo de tanto que era zoado. Ser Portela é vestir seu filho de Portelense no desfile dos Timoneiros. É cantar os sambas do Chico Santana, do Manacéa, do Alvarenga, do Candeia, do seu Jair, do seu Argemiro e tantos outros orgulhosos de que nossa escola é muito maior que um desfile de carnaval. Mostrar que samba é uma coisa e carnaval é outra, e que somos bons em tudo. É ficar arrepiado quando lemos na quadra que (...) aqui deu frutos...), ouvir no esquenta que (...) A majestade do samba, chegou, chegou (...).
CPB: Dentro do Mundo do Samba, você tem algum sonho?
Muito maior que ver a Portela campeã, é ver a Portela exibir nos desfiles seus fundamentos, desfilar com cada um de seus componentes dizendo assim: “aqui é uma escola de samba; aqui estamos cantando e dançando o samba...a história de nossas próprias vidas, de nossos pais, nossos avós, nossos filhos e netos”. Ver a escola exibindo seus passistas, suas incomparáveis porta-bandeiras, sua bateria formidável sempre e, tão importante quanto: continuar sendo insuperável em cada uma das rodas de samba do Brasil afora, com seus sambas das novas e das antigas gerações.
CPB: O que você espera desta nova PORTELA para 2014?
Que ela seja absolutamente fiel às propostas que levou aos Portelenses. Que continue sempre a trilhar esse caminho que escolheu. Que cosiga sanear as finanças da escola, ganhar muitos carnavais e, o mais importante, mostrar que a Portela está além do carnaval, que é muito mais que uma escola-de- samba-que-só-desfila. Que é a majestade do samba.
O COMPOSITORES DA PORTELA BLOG agradece sua participação!