segunda-feira, 4 de maio de 2020

Antônio Rufino



RUFINO

(03/03/1097 – 18/11/1982)


Nascido em 03 de março de 1907, Antônio Rufino dos Reis, filho de Rufino Esteves dos Reis e Teodomira Merenciana dos Reis, era o mais novo dos 3 amigos que tiveram a iniciativa de fundar o “Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz”.

Juntos, Antônio Rufino, Antônio Caetano e Paulo da Portela formaram o trio que decidiu os destinos da Portela em seus primeiros anos. Antônio Rufino foi fundador, compositor, dirigente, sócio número 1, durante os últimos anos de sua vida, e muito mais. Rufino foi fundamental para a história da Portela, tanto que costumava afirmar que ele e seus amigos Paulo e Caetano surgiram junto com a escola.

Na imensa galeria de grandes sambistas quase desconhecidos da história do nosso carnaval, Rufino é, com certeza, uma das figuras de maior expressão.

O Batuque Mineiro

Vindo de Juiz de Fora, Minas Gerais, Antônio Rufino chegou a Oswaldo Cruz no dia 20 de setembro de1920, indo morar na casa de uma tia, na Rua Pirapora. De Minas trouxe as lembranças da batucada e do samba rural, manifestações que iriam acompanhar o jovem rapaz pelo resto da vida. Sério e dedicado, Rufino sempre inspirou credibilidade e confiança, mesmo quando ainda era um menino. Seu primeiro emprego foi como servente de pedreiro numa obra em Jacarepaguá. Costumava fazer suas refeições na casa do amigo Paulo Benjamim de Oliveira, de forma que conseguia economizar alguns valiosos trocados.

A Fundação

A seriedade de Antônio Rufino era tanta que, aos 15 anos, já integrava e era um dos principais responsáveis pelo bloco “Baianinhas de Oswaldo Cruz”. Quando os desentendimentos com Galdino pareciam insuperáveis, e Caetano sugeriu que o grupo deveria fundar outro bloco, Rufino, assim como Paulo da Portela, apoiou e incentivou imediatamente a idéia. Mas os problemas não estavam na fundação, e sim em como superar as dificuldades que viriam nos primeiros anos. E é justamente na superação dessas dificuldades que está a maior contribuição de Rufino para o sucesso da Portela.

O “Procurador”

Fundado o bloco, a primeira grande dificuldade foi conseguir recursos para custear as despesas do grupo. Rufino, acostumado a “fazer milagre” e sobreviver com os parcos recursos que possuía, e cujo caráter todos conheciam e respeitavam, foi nomeado o primeiro tesoureiro da Portela, função chamada na época de “procurador”.

Para conseguir os recursos, Rufino cobrava pessoalmente uma mensalidade de quinhentos réis de cada portelense. O dinheiro obtido era investido na “caixinha”, responsável por empréstimos a juros baixos, e na venda de pequenos produtos, como cigarros, por exemplo.

Quando a Portela, na época ainda chamada “Vai Como Pode”, desfilava no Centro da cidade, Rufino era sempre o último a passar pela roleta, sendo o responsável pelo pagamento das passagens de todos os componentes. Certa vez, Rufino empenhou seu próprio terno para que a escola pudesse desfilar.

A Polêmica com Heitor dos Prazeres

A vitória no concurso de samba promovido por Zé Espinguela fez com que Heitor dos Prazeres ganhasse moral e assumisse a liderança do grupo. Trazido por Paulo, Heitor vinha de uma região onde a apropriação indevida da criação de outras pessoas era de certa forma comum. Ao contrário, Antônio Rufino pouco saía de Oswaldo Cruz, onde os laços de amizade ainda mantinham uma lealdade já distante das regiões centrais da cidade.

Foi se aproveitando dessa “ingenuidade” que Heitor apropriou-se indevidamente do samba “Vai Mesmo”, composto por Antônio Rufino.

“Vai mesmo,
Pra mim não causa pena
Pra fazer não tiveste remorso
Queres esconder
Mas culpa te condena
Quero me esquecer da ingratidão
Não posso”

O episódio, ocorrido em 1930, motivou o primeiro desentendimento entre Rufino, Caetano e Paulo, principalmente porque este último, amigo de Heitor, posicionou-se inicialmente contra os demais fundadores.

O Jongueiro

O jongo sempre fez parte da vida de Rufino. Seus primeiros contatos com essa manifestação rural foi ainda menino em Juiz de Fora. Mais tarde, Rufino passou a participar ativamente das várias rodas de jongo que se praticavam em Oswaldo Cruz.

O jongo e outras manifestações rurais tiveram fundamental importância na formação da Portela, e Antônio Rufino, sem dúvida alguma, foi um dos seus principais expoentes.

O Compositor

O batuque, trazido por Rufino da terra natal, se mistura em Oswaldo Cruz com as manifestações culturais que fervilhavam no período. Desenvolvendo a arte de compor letras, Antônio Rufino se torna um grande compositor, mais um dos vários poetas que a região gerou.

Foi de autoria de Rufino o segundo samba composto na Portela: “Favela tem o seu cruzeiro”, ainda sob a histórica árvore em cuja sombra foram realizadas as primeiras reuniões de nossa escola. Rufino integrou a primeira formação do conjunto da velha guarda da Portela, reunidos por iniciativa de Paulinho da Viola, em 1970.

A difícil tarefa de descrever o passado

No final dos anos 70, quando pesquisadores e professores começaram a se interessar pelo passado das escolas de samba, os velhos sambistas dos primeiros anos tiveram a difícil tarefa de descrever como tudo começou. Tarefa difícil, levando em consideração que precisavam lembrar de um passado distante e que não tinham a mínima idéia de que estavam vivendo um momento histórico que seria recontado anos mais tarde. É neste momento que Antônio Rufino é lembrado para contar o passado da Portela. Ninguém melhor do que ele, então sócio número 1 da Portela, protagonista de todo processo de formação da escola, para descrever como tudo aconteceu.

Muito da história da Portela que foi resgatada devemos à memória de Antônio Rufino, que sempre recebia a todos e contava a história de sua escola repleto de orgulho.

O reencontro com os amigos

Exatamente no dia 18 de novembro de 1982, aos 75 anos, Antônio Rufino partiu para o reencontro com os amigos Paulo e Caetano. Finalmente, após um longo período, o trio responsável pelo surgimento da Portela pôde se reunir novamente. Como Rufino orgulhosamente afirmava, ele, Caetano, Paulo e a Portela “surgiram juntos”. Agora, poderiam se reunir novamente, imortalizados na obra que deixaram para as gerações futuras. As dificuldades foram vencidas.