CPB: Nome e idade?
PECÊ: Meu nome civil é Paulo César Ribeiro, artisticamente conhecido como Pecê Ribeiro. Em 30 de janeiro faço 66 anos, pois nasci em 1949, mesmo ano da morte de Paulo da Portela.
CPB: Fale um pouco sobre você!
PECÊ: Nasci na Cidade de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio, praticamente à beira do Rio Paraíba do Sul. Desde criança a música esteve presente em minha vida, pois meu pai, Waldir Ribeiro, mais conhecido como Waldir Bom Cabelo, era um seresteiro e radialista, que produzia shows de MPB na Rádio Cultura de Campos e em praças públicas. Na adolescência, costumava cantar em qualquer oportunidade que aparecia. Por outro lado, a poesia já me arrebatava, tanto escrevia como muito lia. Nesse período, começava a traçar minhas linhas musicais. Cheguei ao Rio de Janeiro em março de 1968, em meio a toda aquela confusão de protestos contra a ditadura e embalado pelas músicas dos festivais da canção. Não muito demorou e eu comecei a carreira jornalística nos Diários Associados, para O Jornal e Jornal do Commercio, como revisor de texto. Foi trabalhando em jornais, como revisor e redator, que alimentei meus cinco filhos, os quais me deram oitos lindos netos. Nessa trajetória, a poesia e a composição musical estavam sempre presentes, sem, no entanto, querer alçar voos muito altos, quer dizer, sem buscar uma carreira artística. Até que um dia, após verificar que havia um bom número de composições, eu pensei: pra que isso? Tanta música guardada para as traças se alimentarem (na época tudo estava no papel, não havia computador). Comecei a entender que de nada servia aquilo se as pessoas não tomassem conhecimento da sua existência, afinal a arte só faz sentido quando ela chega aos sentidos das pessoas. Ao verificar que o custo da produção de um CD estava na medida das minhas posses, em 1999 fiz então o meu primeiro CD, com o título de “Inspiração”. Era um trabalho autoral, todas músicas eram minhas. Foi muito mais dado do que vendido, pois minha intenção era tornar as minhas músicas conhecidas. A par disso, eram frequentes as rodas de samba e shows por mim organizados (dentro e fora do Rio). Algumas músicas foram gravadas por bons cantores mas sem grande fama, o que pra mim foram preciosos estímulos, por isso os agradeço. Até que um dia, em 2005, por obra do destino mesclado com minha fé, o grande portelense Zeca Pagodinho resolveu gravar a minha “Pra São Jorge”, sucesso até hoje – e aqui fica também os meus agradecimentos a ele. Em 2007, saiu o meu segundo CD, com o título de “Com arte e prazer”. Com quatorze músicas da minha autoria e uma, inédita, de Zé Keti. E assim foi e assim vamos.
CPB: Como portelense, como você está vendo este novo momento?
PECÊ: Este momento tem sido ótimo para a Portela e para o portelense como um todo, mas quero destacar o grande valor que a escola dá ao compositor.
CPB: Fale de sua experiência no mundo do samba!
PECÊ: Para começar, apesar de estar atento ao que há de melhor na MPB, o samba é a minha primeira referência. Faço samba nos seus mais variados feitios, desde o mais comum, passando pelo samba canção, samba sincopado, de breque, chorinho e, claro, o samba de enredo, e sempre para a Portela, no Rio de Janeiro. Para ser sincero, uma única vez fiz para a Leandro de Itaquera, de São Paulo, pela qual sai vencedor. Também fiz sambas ou marchinhas para blocos carnavalescos. Como disse anteriormente, rodas de samba e shows fazem parte dessa experiência.
CPB: Qual(is) o(s) seu(s) ídolo(s), no Samba?
PECÊ: Meu primeiro ídolo é o imenso Paulo da Portela, um sambista, um cidadão, um homem inigualável e inalcançável em sua importância, não só para o samba, como também para a cultura nacional. Depois vem o meu querido amigo Zé Kétti, Esses dois eu posso chamar de meus ídolos. No entanto, me sinto orgulhoso em saber da plêiade da minha querida Portela, com Candeia, Manacéa, Alcides, Chico Santana, Monarco, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Noca e muitos outros, que se eu falar em todos eles hoje eu não vou terminar. Por que também não lembrar da importância de compositores de outras escolas de samba? Noel Rosa, Cartola, Ismael Silva, Nélson Cavaquinho, Silas de Oliveira, Geraldo Babão, Dona Ivone Lara etc. etc.
CPB: Na elaboração de um samba, como você se define? É letrista, faz a música ou os dois?
PECÊ: Faço melodia, letra, ou mesmo as duas, depende de como chega a inspiração, a ideia. Muitas vezes a música baixa pra mim completinha, com letra e melodia casando sem a menor dificuldade. Algumas vezes empaca de tal maneira que só um parceiro pode terminar.
CPB: Como você chegou a PORTELA?
PECÊ: Cheguei à Portela pelo caminho do coração. Antes de conhecer a quadra já gostava, pelo que eu ouvia falar, por tomar conhecimento da sua história, dos seus poetas, dos seus enredos, através dos meios de comunicação. Isso já acontecia antes de vir para o Rio de Janeiro. Quando cheguei na quadra foi aquela emoção de quem encontra seu verdadeiro amor.
CPB: Desde quando você compõe?
PECÊ – Desde a minha adolescência, como explanei acima. No início, compunha despretensiosamente, depois, a cada prazer que eu via no rosto das pessoas que me ouviam, me dava mais vontade de compor.
CPB: O que você como compositor portelense falaria com os jovens compositores da Escola?
PECÊ: Eu diria que ser compositor é, antes de tudo, um ato de prazer para ser também prazeroso a quem nos ouve. E se realmente seguir esse caminho, dando vida às suas criações, entenda que é um privilégio que Deus nos concede e uma oportunidade de ser feliz fazendo as pessoas também felizes. Se não tiver esse sentimento de generosidade não seja compositor.
CPB: Para você, o que é ser PORTELA?
PECÊ: Ser Portela é ter o orgulho e o prazer de ser parte de uma história das mais bonitas e edificantes na cultura da cidade mais linda do mundo. Tudo o que os poetas da nossa Escola já falou eu gostaria de ter falado antes e por isso restou-me dizer apenas do amor que tenho por ela. Da minha parte eu agradeço pelo que recebo e retribuo de todo coração.
CPB: Dentro do Mundo do Samba, você tem algum sonho?
PECÊ: Quero ver o sambista, a começar pelos compositores, mais respeitado. Aliás esse respeito começa por nós mesmos nos respeitarmos.
CPB: O que você espera para a PORTELA em 2015?
PECÊ: Claro que queremos vê-la vitoriosa na avenida, o que é possível de acontecer. Se é bom para a Portela também é bom para o portelense (Avante, portelense, para a vitória!).
Desde já, o BLOG agradece a sua participação!