sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Franco Cava (Entrevista)



CPB: Nome e idade?

Franco: Franco Cava (Francisco Luciano Cava) 52 anos nasci em Madureira no Rio de Janeiro, no dia 1 de março de 1965, ano do Quarto Centenário da Cidade. 

CPB: Desde quando você compõe?

Franco: Trabalho com música desde os 17 anos, apresentava e produzia um programa na Rádio Imprensa no Rio, mas acho que escrevi oficialmente a minha primeira música aos 28 anos. Era um samba e era dedicado ao bairro de Madureira.

CPB: Além de ter concorrido na PORTELA 2018, nos fale do seu atual momento!

Franco: Tenho 5 discos gravados dos quais 3 foram lançados na Europa, um deles pela gravadora Universal (Gravadora que abriga artistas como Zeca Pagodinho entre outros) e dois independentes. Gosto de experimentar todos os gêneros. Esse ano uma minha música chegou em primeiro lugar na Itália, somando mais de 5 milhões de visualizações. A música chama-se "Arca de noé" e foi gravada pelo cantor romano "Mannarino" que adaptou um samba enredo que eu perdi na disputa. Estou indo pra Itália colher os frutos desse milagre musical nesses tempos tão difíceis para nos artistas.

CPB: Como Compositor da Escola de Oswaldo Cruz, como você vê o retorno da PORTELA ao seu devido lugar?

Franco: Eu sempre vi a Portela como uma Escola vitoriosa, mesmo não tendo bons resultados nos desfiles. Vitoriosa na sua contribuição artística e musical agregando grandes nomes e compositores em eventos musicais o ano inteiro. Zeca, Marisa Monte, Paulinho da Viola (só pra citar alguns nomes) vitoriosa em preservar a sua Velha Guarda. O último grande disco dos nossos baluartes, "Tudo azul", foi gravado em um dos nossos períodos mais nebulosos. Rodas como as da Tia Surica , como as da Tia Doca no passado, o resgate do Trem do Samba capitaneado pela Portela, a Feira das Yabás, o resgate da Portelinha, essas iniciativas fizeram da Portela a campeã do samba no Rio de Janeiro o ano inteiro e não apenas no carnaval, e agora junta-se a todo esse esforço os resultados também nos desfiles, tudo fruto de uma diretoria competente, uma revolução da qual eu fiz parte. Eu sempre digo que tem muitos talentos da minha geração responsáveis por essa Portela vitoriosa. "Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado". 

CPB: Quais os seus planos em relação ao futuro como compositor?

Franco: Eu alimento uma grande paixão pela Portela, e as grandes paixões as vezes criam grandes expectativas. Abri mão de escrever para a Portela nos últimos anos justamente pra preservar a pureza dessa paixão pois sempre fica um gosto amargo na boca quando você é excluído de uma disputa. Mas decidi voltar e assumir todos os riscos e quero continuar de uma forma apaixonada e não profissional. Não tenho interesse em uma produção de samba enredo industrial colocando em vários outros lugares, prefiro um trabalho artesanal e daqui por diante apenas para a ala Ary do Cavaco.

CPB: Participar do Concurso de Samba Enredo na PORTELA já é uma honra, visto que se fala da Ala Ary do Cavaco. Diga-nos um pouco sobre tal responsabilidade!

Franco:  É sempre muito emocionante pra mim ouvir o nome de uma pessoa que foi muito importante pra minha história dentro da Portela, Ary do Cavaco era um grande amigo e lutou muito por todos nos compositores. Juntos realizemos um disco lindo para a ala de compositores com o hino da Portela cantado por portelenses ilustres. Entrei para a ala graças a uma pessoa muito especial, a tia Dodô , que acreditou no meu talento. No ano seguinte eu já estava na final do concurso disputando com nomes que fazem parte da historia do samba, como Noca, David Correa. Concorrer na Portela é sempre uma responsabilidade, pois, sem desmerecer as outras escolas, é a maior seleção de poetas da cidade. 

CPB: Qual(is) o(s) seu(s) ídolo(s), no Samba?

Franco: No samba enredo aprendi muito com a espontaneidade e o poder de comunicação dos sambas do David Corrêa, ninguém faz refrões como ele, e sempre me inspirei no lirismo das melodias e letras do Noca. Passagens como as da melodia da primeira do samba "Olhos da Noite" são dignas de Bach.  Fora do universo do samba enredo, Paulinho da Viola e Candeia são imbatíveis. Mestres. Mas são tantos talentos que se for falar de todos hoje não vou terminar. 

CPB: Na definição de uma obra, quanto a elaboração como você se define? Letra e/ou melodia?

Franco: Sou egoísta! Centralizador mesmo. Tenho problemas nas parcerias com muitos compositores. Gosto de fazer tudo. Mas tento sempre ser permeável, no samba enredo além de estar apaixonado pela Escola é importante estar apaixonado pelo enredo e entender as próprias limitações. Tenho sempre mais dificuldade na parte melódica e procuro parceiros que consigam complementar essa minha lacuna.

CPB: Atualmente, o que você, como compositor experiente, falaria aos jovens compositores?

Franco: É preciso escrever 100 sambas ruins para escrever a obra prima, não tenham vergonha dos sambas que não obtiveram sucesso, pois são esses que fazem a gente evoluir e aprender seguindo sempre em frente.

CPB: Você tem algum sonho?

Franco:  Já tive a honra de ver três sambas meus desfilando no sambódromo, mas nunca com a minha escola do coração. Meu sonho é ter um samba meu para o desfile da Portela.

CPB: Como portelense, o que você espera da PORTELA em 2018?

Franco:  Espero que vença um samba que traduza o enredo e que exale tolerância, igualdade, acolhimento. A humildade é sempre vencedora, e uma coisa eu aprendi em todos esses anos na Escola é que a Portela é vaidosa mas não é soberba, e que temos uma legião de portelenses apaixonados espalhados pelo mundo mas que temos também uma legião ainda maior de não portelenses que também são apaixonados pela Escola. Espero um desfile ousado, inovador, mas preservando e respeitando os fundamentos da escola. 


Desde já, agradecemos sua participação!